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Desde o término da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos encontram o fuzil Avtomat Kalashnikova em praticamente todos os conflitos que participaram. Barata e eficiente, a arma é a favorita entre rebeldes, milicianos, terroristas e traficantes, mas também é adotada por cerca de 50 exércitos pelo mundo.
Conhecido simplesmente como AK-47, o modelo foi criado pelo russo Mikhail Kalashnikov em 1947, daí seu nome. Mais de meio século depois, seu design não sofreu muitas alterações.

Durante a Guerra do Vietnã, soldados norte-americanos relataram que AKs desenterrados em áreas de cultivo de arroz, apesar de imundos, molhados e enferrujados, continuavam a disparar perfeitamente.
"Seu poder de fogo (600 cartuchos por minuto) e sua confiabilidade impressionante dão a ela uma vantagem sobre os modelos de armas mais sofisticadas, tais como o M-16", diz o jornalista Larry Kahaner. Pelo impacto que esse instrumento bélico causou nos conflitos contemporâneos, Kahaner decidiu escrever o livro "AK-47", uma "biografia" do fuzil que conquistou uma reputação lendária.
Com tradução de Mario Pina, o título acaba de ser publicado no Brasil pela editora Record. Leia, abaixo, um trecho do exemplar no qual o autor relata um combate ocorrido em Bagdá.
Em 23 de março de 2003, sob a proteção da escuridão, 32 helicópteros de combate Apache do exército dos EUA voavam para Bagdá na frente das forças de coalizão, seguindo na direção norte e sobrevoando a parte terrestre em direção à cidade-capital. Os helicópteros estavam em missão de busca e destruição para encontrar a guarda republicana de Saddam Hussein que supostamente formava um semicírculo para proteger a parte sul da cidade. Na preparação para essa missão, as principais posições de artilharia de Saddam tinham sido golpeadas por mísseis terra a terra e foguetes ATACMS carregando 950 bombas de 225 gramas. As forças remanescentes do inimigo seriam então varridas por estas máquinas de 22 milhões de dólares que voavam baixo, equipadas com canhões de 30 mm e os mais avançados sistemas de radar Longbow, capazes de direcionar mísseis antitanques Hellfire para alvos múltiplos.
No entanto, quando os Apaches estavam em posição, algo inesperado aconteceu. As luzes nas cercanias de Bagdá se apagaram, como se tivesse ocorrido um blackout. Então, do mesmo modo misterioso, elas voltaram a acender dois minutos depois.
Os pilotos do exército dos EUA não perceberam que aquele era um sinal de ataque.
O que aconteceu em seguida chocou até mesmo os veteranos mais acostumados ao combate. Os helicópteros Apache foram atacados de todas as direções pelas armas de combate mais prolíficas e eficazes do mundo, um dispositivo tão simples e barato que pode ser comprado em muitos países por menos do que o custo de uma galinha viva. A arma, desenhada na bandeira e na moeda de vários países, agitada de modo desafiante por guerrilheiros e rebeldes ao redor do mundo, modificou o panorama geopolítico da era pósguerra fria. Ela tem sido responsável por mais de 250 mil mortes todos os anos. É inquestionavelmente a arma de fogo de escolha de pelo menos cinquenta exércitos legítimos e de boa reputação, em paralelo a incontáveis forças de combate constituídas por desprovidos de direitos civis abrangendo insurgentes e terroristas internacionais, traficantes de drogas e gangues de rua.
Ela é o fuzil de assalto AK-47.
Quando os Apaches pairavam em posição, eles levaram milhares de tiros das tropas de terra do Iraque. Dos 32 helicópteros, 31 sofreram danos; todos tiveram que abortar a missão. Um foi derrubado e dois pilotos foram capturados. Os oficiais do Pentágono não sabem se o helicóptero foi abatido ou sofreu problemas mecânicos. Um piloto que conseguiu voltar a salvo disse: "Vinha de todas as direções. Eu sofri disparos pela frente, por trás, pela esquerda e pela direita." O piloto Bob Duffney, de Springfield, Massachusetts, que voou em helicópteros de combate em 1991 na Guerra do Golfo, acrescentou: "Na Tempestade do Deserto, nós não tivemos um tiroteio como este."
Mesmo com todos os bilhões de dólares gastos pelos militares dos Estados Unidos com armas e tecnologia da era espacial, o AK ainda é a arma mais devastadora do planeta. Seu pente em forma de banana dá a esta arma um contorno facilmente reconhecível que a torna um símbolo da rebelião e do poder do Terceiro Mundo. Diferente do flagelo das minas terrestres, os 80 a 100 milhões de AKs fabricados e distribuídos desde a invenção do fuzil em 1947 representam uma ameaça mais perigosa porque eles podem ser facilmente transportados, reparados e usados por bandos de atacantes em incursões em diferentes locais. O AK possibilitou golpes na África, reides terroristas no Oriente Médio e roubos de bancos em Los Angeles. Ele se tornou um ícone cultural, e o seu formato passou a definir para nós a aparência que deve ter um fuzil mortal.
Folha.com

http://livraria.folha.com.br/catalogo/1160798/ak-47
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