Extraido do livro "História das Guerras" organizado por Demétrio Magnoli. Capitulo - Guerras Árabes-Israelenses por Cláudio Camargo página 449.
DIVÓRCIO ANTES DA PAZ
...Em seu livro Contra o fanatismo, o escritor israelense Amós Oz argumenta que um acordo entre os dois povos é possível e necessário, embora seja doloroso, pois trata-se de um conflito entre o certo e o certo. A citação é longa, mas vale a pena:
Os palestinos estão na Palestina porque esta é a sua terrra, e a única terra natal do povo palestino[...]. Os judeus israelenses estão em Israel porque não há nenhum outro país no mundo a que os judeus, como povo, poderiam chamar seu la. Como indivíduos, sim, mas não como povo, não como nação. Os judeus foram expulsos da Europa, exatamente da mesma forma que os palestinos foram inicialmente expulsos da Palestina e, em seguida, dos países árabes. Os palestinos tentaram, involuntariamente, viver em outros países árabes. Foram rejeitados, às vezes até humilhados e perseguidos, pela chamada "família árabe". Tomaram conhecimento, da maneira mais dolorosa, da sua "palestinidade", pois não eram desejados como libaneses, como sírios, como egípcios ou como iraquianos. Eles Tiveram que aprender, pelo caminho mais difícil, que são palestinos e este é o único país em que eles podem segurar-se.
Prosegue o autor de A caixa preta.
O que precisamos é de um compromisso doloroso. Porque ambos os povos amam o país, porque judeus israelenses e árabes palestinos têm raízes históricas e emocionais profundas, diferentes, mas profundas, no país [...]. Se há algo a esperar, isso é um divórcio justo e razoável entre Israel e Palestina. E os divórcios nunca são felizes, mesmo quando são justos. Especialmente esse divórcio específico, que será um divórcio bastante engraçado, porque as duas partes que se divorciam ficarão definitivamente no mesmo apartamento. Ninguém vai se mudar . Como este é muito pequeno, será preciso decidir quem ficará com o quarto A e quem ficará com o quarto B, e o que se fará em relação à sala de estar [...]. Muito inconveniente. Masmelhor do que o inferno vivo que todos estão enfrentando agora naquele país amado. Palestinos que são diariamente oprimidos, assediados, humilhados, que passam privações por causa do cruel governo militar israelense. O povo israelense que é diariamente aterrorizado por ataques terroristas impiedosos e indiscriminados contra civis, homens, mulheres, crianças, adolescentes, consumidores num shopping. Qualquer coisa é preferível a isto! Sim, um divórcio razoável.
As opções militares e políticas falharam miseravelmente no Oriente Médio. Quem sabe, então, se o caminho apontado por um escritor que está longe de ser um pacifista ingênuo seja, mais razoável?