Petição em versos

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01_Urubu
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Petição em versos

Post by 01_Urubu »

Esta é para os advogados, juristas, poetas e para quem gosta de coisa bacana :ok

Ontem, enquanto pesquisava na net sobre um caso do estatuto do desarmamento em que estive trabalhando para soltar um cara, encontrei esta pérola :)

O Advogado paraibano fez a petição em versos de cordel, e o juiz decidiu, também em versos. Vale a pena a leitura!
PETIÇÃO EM VERSOS


PEDIDO DE LIBERDADE PROVISÓRIA



206.2007.000523-2
Descriao Estatuto do Desarmamento - lei 10826/03
Vara 1ª Vara da Comarca de Bezerros/ PB
Juiz Paulo Alves de Lima
Data 21/06/2007 12:24
Fase Devolução de Conclusão

Autos nº 206.2007.000523-2.
Pedido de Liberdade Provisória.
Parecer do Min. Público (fls. 19/21).
Autuado: JOSÉ SANDRO VENCESLAU DA SILVA.
Vistos, etc...

José Sandro V. da Silva,
Através do advogado
Doutor Nivaldo Santino,
Pediu pra ser liberado,
Dizendo que sua prisão
Decorreu de autuação
Porque estava armado.

Mas afirma que a arma
Era um mero bacamarte,
Usado pra comemorar
Uma festa que faz parte
Do folclore da cidade,
que se usa, sem maldade,
na terra do PAPANGUARTE.

A petição está em verso,
Narrando o acontecido,
A tristeza do requerente,
De se achar recolhido,
Sem entender a razão,
Por se dizer um cidadão
E não ser nenhum bandido.

E para não trair os fatos
E registrá-los fielmente,
Peço vênia ao defensor
Do acusado/defendente,
Para transcrever a peça,
Que está, assim, expressa
EM POESIA DE REPENTE:

"Doutor Juiz, peço vênia
E vossa COMPREENSÃO,
Pela forma INUSITADA
Dessa humilde petição.
Mas também inusitado,
Por todos considerado,
Foi a razão dessa prisão".

"Seu Juiz, o requerente,
Bom nordestino - que é -,
Homenageava o Santo,
Como a sua crença quer,
Usando seu bacamarte,
Que, do folclore, faz parte,
Praticando a sua fé".

"Trazido, pela Polícia,
Sem entender a razão,
O requente foi preso,
Pois, sem autorização,
Foi, em flagrante autuado,
Mas, porém, tá desolado
Com esta situação"

"Foi no dia dezesseis (16)
De junho, mês de fogueira,
Que o requerente foi preso,
Fazendo tal brincadeira,
Tendo o Doutor Delegado,
De Pronto, lhe AUTUADO,
Conforme a lei brasileira".

"O BACAMARTE é guardado
E DO SEU LUGAR SÓ SAI
Neste exato MÊS de junho,
Quando o momento se apraz;
É usado por BRINCANTES,
Como fizeram os VOLTANTES
Da guerra do Paraguay".

"Um TIRO de bacamarte,
seu Juiz, Chama atenção.
Mas NÃO É atrevimento,
Tampouco PERTURBAÇÃO;
É COSTUME e via eleita
Pra agradecer a colheita
E ACORDAR São João".

"O bacamarte, doutor,
BRINQUEDO, ... É;
ARMA..., NÃO!
Se usa todos os anos,
Nas FESTAS de São João,
Pra HOMENAGEAR o santo
E MANTER A TRADIÇÃO".

"Existe, em nossa cidade,
E também na REGIÃO,
Grupos de BACAMARTEIROS,
Que têm bela FORMAÇÃO;
Acolhem MULHER e HOMEM,
De BATALHÃO tem o nome,
Mas têm AUTORIZAÇÃO".

"A Lei do desarmamento
A TRADIÇÃO contraria:
A arma não tem registro;
Por isso, TAL AGONIA,
O requerente tá preso,
Mas é justo o seu desejo,
De ser solto neste dia".

"Liberdade Provisória,
O PEDIDO está feito
Dentro da LEGALIDADE
Da justiça e do DIREITO,
Já que o réu é PRIMÁRIO,
TRABALHADOR com salário
E é CIDADÃO perfeito".

"Requer, com ou sem fiança,
Já que, agora, a lei permite;
PROMETE COMPARECER
Aos ATOS que a lei insiste,
A todas as AUDIÊNCIAS.
Só não se for por DOENÇA.
Mesmo assim, que justifique".

"Tá na CONSTITUIÇÃO
Ao cidadão GARANTIDO,
Lá no seu artigo quinto (5º),
Escrito em seus incisos,
Que ninguém será levado,
Sem ainda ser culpado,
À prisão e lá MANTIDO...".

"LIBERDADE provisória
É REGRA; Não, exceção.
Sendo do preso o DIREITO
DE entrar com PETIÇÃO,
Pedindo o seu livramento,
Provando com documentos
Que é um bom CIDADÃO".

"Roga-se ao douto julgador
a PROCEDÊNCIA do pedido,
Dado ao periculum in mora,
Conforme tá entendido,
Com vistas ao MP,
Para que dê PARECER
E seja o RITO cumprido".

"O pedido tem AMPARO
Na CARTA Constitucional
E também é APOIADO
No Código Processual.
Neste, sem nenhum revés,
É o TREZENTOS E DEZ
O ARTIGO PRINCIPAL".

"Ta no Parágrafo Único
Do ARTIGO em questão
O DIREITO ao benefício
DA SUA LIBERAÇÃO,
Pois o pleito é ALTIVO
E não existe MOTIVO
Que autorize a prisão".

"Se for FIANÇA, se ampara
Num BENEFÍCIO COMUM.
Aí, o artigo em voga,
é 321 (trezentos e vinte e um),
Sendo DIREITO LATENTE
Que faz jus o requerente
A favorável DESISUM".

"Por HIPOSSUFICIÊNCIA,
Faz um apelo ao Doutor,
SE ARBITRADA A FIANÇA,
Conforme requisitou,
Por necessidade pura
Pra não ficar na penúria,
Seja MÓDICO O VALOR".

"O requerente FAZ JUS
AO PEDIDO IMPETRADO,
Pois de BONS antecedentes,
PRIMÁRIO e bem SITUADO,
Tendo também bom conceito,
Sendo sujeito DIREITO,
Por todos CONSIDERADO".

"Por todo o aqui exposto
E tendo, acima de tudo,
Fumaça do bom direito,
O CPP como ESCUDO,
Espera-se ter atingido
A clareza do pedido,
Toda forma e conteúdo".

"Pra botar ponto final
No justo REQUERIMENTO,
Também atender a forma
Como exige o REGIMENTO,
NESTES TERMOS,
PEDE E ESPERA,
Aguarda o DEFERIMENTO".

"Hoje é 18 DE JUNHO,
No calendário cristão.
A cidade é BEZERROS
E, conforme procuração,
Totalmente respaldado,
NIVALDO, o advogado,
ASSINA A PETIÇÃO".

Foi esse o PEDIDO feito,
Em nome do AUTUADO,
E que resolvo CONCEDER,
porque está fundamentado,
de acordo com o PARECER,
que julgo por bem ACOLHER,
pra LIBERTAR O ACUSADO.

Ordeno que seja expedido
O ALVARÁ DE SOLTURA
Em favor do AUTUADO,
Que diz ser da agricultura
Na cidade de J. BORGES,
A maior das grandes vozes
Na arte da XILOGRAVURA.

Faça constar no ALVARÁ
O DEVER do AUTUADO
De VIR A ESTE JUÍZO,
Para ser COMPROMISSADO.
Na forma da LEI em vigor
E dê ciência ao PROMOTOR
E ao DEFENSOR do acusado.

PUBLICADO aos 21 DE JUNHO
DO ANO andante ou fluente
(ou seja, em DOIS MIL E SETE)
NO CARTÓRIO competente,
Este despacho PROLATADO
________________________
por Paulo Lima - o magistrado,
UM AMANTE DO REPENTE.
*Alis Grave Nil*
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28_Condor
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Post by 28_Condor »

S!


Bacana, Urubu :ok

Imagino eu um advogado de São Paulo indo prá lá tendo que tendo que arguir com esse juiz :-P




SP!
[b]Eu confio no povo brasileiro. Voto facultativo já no Brasil![/b]
Nabakov
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Post by Nabakov »

:ok

Sensacional S`uruba..! Vou guardar essa.
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Shinke
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Post by Shinke »

S!

Muito bom :ok :shock:
O INVENTÁRIO DO POBRE
Paulo Gondim

Peço licença, leitor
Pra no meu verso mostrar
Estórias que acontecem
E surgem em todo lugar
De boca em boca, correndo
Ao tempo sobrevivendo
Que o povo vive a contar

Essa aqui aconteceu
Num certo tempo passado
Uma família bem pobre
Precisou de um advogado
Pois um sexagenário
Morreu e seu inventário
Ia ser ajuizado

Até aí, tudo bem
Não é grande a novidade
Pois a lei assim exige
Dividir com igualdade
Os bens que o morto deixou
Que com vida amealhou
Pra sua posteridade.
1

Iniciado o trabalho
Foram contar os herdeiros
Numerando um a um
Começando dos primeiros
Nunca se viu tanta gente
Todo mundo era parente
Até os mais derradeiros

Apareceram três filhos
Uma tia e dois sobrinhos
Uma irmã e dois irmãos
Que da tia eram vizinhos
Uns três irmãos adotados
Outros tantos agregados
Achados pelos caminhos

Mas o morto era solteiro
Pois nunca quis se casar
Como tinha esses três filhos?
Não vou querer explicar
Dos três irmãos adotados
Dos outros mais agregados
Eu nem sei o que falar
2

A tia e os dois sobrinhos
Até têm explicação
Não era culpa do morto
Pela sua aparição
E só queriam a herança
Foi grande a sua ganância
Em busca do seu quinhão

Os herdeiros reunidos
Era grande o falatório
Cada um fazendo plano
Pra não haver moratório
Como gastar o dinheiro
Que cabia a cada herdeiro
E foram para o Cartório

Chegaram lá no Cartório
Para pedir Certidão
Dos bens ali registrados
Para não ter discussão
Para entregar ao Juízo
Pra não haver prejuízo
Na hora da partição
3

A busca continuava
Por todo canto e lugar
Até no jogo do bicho
Eles foram procurar
Alguma aposta esquecida
Pois o falecido em vida
Ia no bicho jogar

Mas alguém lembrou do banco
Saiu correndo pra lá
Discutiu com o segurança
Que não quis deixar entrar
E perguntou ao gerente
Se alguma conta corrente
Do morto havia por lá

Toda essa correria
Em busca de algum achado
Rolava de noite e dia
Num corre-corre danado
Com tanta gente correndo
Eu estava me esquecendo
Do doutor advogado
4

Pois muito bem, o doutor
Crente no seu ideário
Preparando a petição
Pensando no honorário
Até plano ele fazia
Com a verba que viria
Do processo de inventário

Pensou em trocar os móveis
Os de casa e do escritório
Quem sabe até viajar
Para outro território
Deixar a mulher de lado
E sair desconfiado
Com a chefe do Cartório

Pensou em trocar o carro
Que já andava amassado
O motor batendo pino
Estofamento rasgado
Pois ter carro velho é praga
Não fica bem essa carga
Para um bom advogado
5

Os planos não foram poucos
Que o nosso doutor fez
Pensando nos honorários
Que viriam desta vez
Processo assim desta monta
Nem toda hora se encontra
Nem todo dia, nem mês

A família do doutor
Não tardou desconfiar
Dessa nova clientela
E se pôs a especular
Com tanto dinheiro em vista
Cada um fez uma lista
Pensando no que gastar

Foi pressão de todo lado
Cada um querendo o seu
Que o pobre advogado
No processo se perdeu
Não sabia o que fazer
Com todo mundo a querer
O que sequer recebeu
6

Deixemos nosso doutor
Voltemos ao inventário
Como anda a correria
De herdeiro ou legatário
Estavam correndo a pé
Para a igreja da Sé
Pra falar com o vigário

O velho padre assustado
Com aquela agitação
Fez logo o sinal da cruz
Como todo bom cristão
O que essa gente queria?
Bem ali na sacristia...
Chamou logo o sacristão!

O sacristão era um velho
Nos anos, adiantado
Correu pra perto do padre
Da mesma forma, assustado
E disse na mesma hora
-Valha-me, Nossa Senhora!
O caso aqui tá danado !..
7

Toda essa correria
Foi por que anunciado
Que havia um novo herdeiro
No Cartório registrado
Queriam do padre ouvir
Se aquele sujeito ali
Foi por ele batizado

O coitado do vigário
Foi nos livros pesquisar
Não encontrou nenhum nome
Que estava a procurar
E falou indignado
-Esse lugar é sagrado
Saiam todos daqui já !

Menino, a coisa fedeu !
Com a bronca do vigário
De tudo que é "nome feio"
Que há no imaginário
Saiu da boca do padre
Que até a velha madre
Se apegou no escapulário
8

Dali, saíram correndo
Para falar com o prefeito
Que soltou fogo das ventas
Gritou, estufando o peito
-Já sei o que o padre fez
Vou fazer tudo outra vez
Mas vou fazer mais bem feito

Só então que descobriram
Que aquilo tudo era errado
Toda essa correria
Não surtiu em resultado
Nenhum bem do falecido
Que já estava esquecido
por ninguém foi encontrado

No cartório nada havia
Do morto ali registrado
Nem o pedaço de chão
Que nele foi sepultado
Por ser de família pobre
Sem eira, nem beira e cobre
Não se comprou, foi doado
9

Mas uma tia mais velha
De todos desconfiava
Resolveu por sua conta
Buscar o que procurava
Como quem quer e não quer
Alguma coisa qualquer
Aonde o morto morava

Saiu dali decidida
Se juntou a outra tia
Deixou os outros de lado
Partiu ao raiar do dia
Mas a surpresa a esperava
Pois ela não se lembrava
Onde o morto residia

Não demorou, para os outros,
Descobrir a sua tia
O que estava fazendo
E o que a velha queria
Saíram em disparada
Atrás da velha danada
Que a todos enganaria
10

Mas enfim se encontraram
Na casa do falecido
Era uma casa tão velha
Num lugar bem escondido
Era abrigo de indigente
Daqueles que até parente
Deixa um vivente esquecido

Só aí se deram conta
“Fizemos papel de otário”
Pois nada havia do morto
A não ser o necessário
E que todo o artifício
Não valeu o sacrifício
De se abrir inventário

Mas o que ninguém sabia
É que isso tem despesa
Assim que a “ficha caiu”
Depois de toda fraqueza
O gasto é de grande monta
Quem irá pagar a conta ?
Não adianta esperteza!
11

Nunca se viu tanta gente
Em busca de um legado
Querendo ver repartido
O que do morto foi deixado
Como nada se encontrou
Só decepção restou
E todos endividados

O leitor há de lembrar
“Dos filhos e agregados”
Além da tia do morto
E demais aparentados
Venderam pote e vasilha
Pra entrar nessa partilha
Mas não foram contemplados

A choradeira foi tanta
Depois da decepção
De nada ser encontrado
Que só deu desilusão
O morto não tinha "cobre"
E inventário de pobre
Só acaba em confusão
12

Mas o pior vem agora
Depois de acabar a “festa”
Com todo mundo devendo
Depois que nada mais resta
E o nosso advogado
Como ficou o “coitado”?
Como vai se sair desta ?

Mas o grande advogado
Nem redigiu petição
Quando soube da notícia
Da real situação
Pois se nada foi deixado
Pra ser inventariado
Era impossível a ação

Pois muito bem, o doutor
No seu trabalho diário
Apostou todas as “fichas”
Aqui nesse inventário
Sonhou muito e até fez plano
Só lhe restou desengano
Tudo ali deu ao contrário
13

Os móveis de sua casa
Já não poderá trocar
O sonho do carro novo
Ficou no mesmo lugar
E a viagem delirante
Que faria com a amante
Terá mesmo que adiar

As gorjetas prometidas
A todos funcionários
O churrasco prometido
Aos seus correligionários
Não foi possível fazer
Tratou logo de esquecer
Sem estes tais honorários

A vida é mesmo cruel
E não perdoa ninguém
Os rios correm pro mar
Só ganha mesmo quem tem
Na vida é sempre arriscar
É pra perder ou ganhar
Vai um dia, outro vem
14

Quem acha que o doutor
Deu tudo por encerrado
Enganou-se outra vez
Nosso doutor é danado !
Preparou a petição
Requerendo execução
Do trabalho contratado

O juiz determinou
A todos a intimação
Filhos, tias, agregados
Que queriam a partição
Do montante imaginário
Do infeliz inventário
Que não passou de ilusão

Quando o juiz decidiu
E apontou a quantia
De honorários devidos
Que a cada um caberia
Não omitiu condição
Não cumprida a execução
Pra cadeia os mandaria
15

Assim, nosso advogado
Que de besta nada tem
Recebeu o seu dinheiro
Como justiça convém
Gastou do jeito que quis
Quero ver quem é que diz
Que deve nada a ninguém!

Desse processo confuso
Só restou uma lição
Quando o assunto é dinheiro
Irmão desconhece irmão
Veja o exemplo da tia
Que usou de covardia
Nos outros passando a mão

Na vida tudo se ganha
Quando se quer acertar
Não querer ser desonesto
Em trilha certa andar
Agir com muita clareza
Só assim tem-se a certeza
De que Deus vem ajudar
16
tem mais aqui
http://www.poetasadvogados.com.br/novo/ ... _txt=11506
Abraços,
Krauthein
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