"o meu trabalho pode ser uma gota no oceano, mas ...&qu

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Nilton

"o meu trabalho pode ser uma gota no oceano, mas ...&qu

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(Do site www.dharmabindu.com)

Vegetarianismo Ético


Maria Pinto Teixeira
Português

Peter Singer, no início do seu mundialmente famoso livro "Libertação
Animal", por muitos considerado a Bíblia do vegetarianismo, conta um
episódio passado no Reino Unido em que uma defensora dos direitos dos
animais o convidou para lanchar e conversar sobre o tema da defesa
animal, e lhe serviu sanduíches de fiambre.

Em 1989, 14 anos mais tarde, na edição revista do livro Peter Singer
refere que felizmente hoje em dia os activistas do Movimento de
Libertação Animal e os membros das Associações de Defesa Animal são já
todos vegetarianos e não servem sanduíches de fiambre aos seus
convidados.

Embora isso possa ser verdade no Reino Unido, não o é certamente em
Portugal nem em muitos outros países.

Na realidade, muitas (atrevo-me mesmo a dizer a maioria) das pessoas
que simpatizam com a causa da defesa dos animais e é contra as formas
de exploração de que milhões de animais são vítimas às mãos dos
humanos, continua a contribuir para a mais brutal de todas estas
formas de exploração, e que maior sofrimento causa ao maior número de
animais em todo o mundo: a indústria da criação intensiva de animais
para alimentação.

Há vários motivos para que seja assim:

A maioria das pessoas nunca visitou um matadouro ou uma unidade de
criação intensiva de animais, logo nunca viu (nem ouviu) a agonia
prolongada que constitui a vida das vacas, porcos e galinhas que
sofrem dentro deles, até ao dia em que sofrem uma morte cruel e lenta
no momento do abate.
A força do hábito. Quase todas as pessoas são habituadas desde a
infância a comer carne e não só lhes custa a imaginar como poderiam
sobreviver sem ela, como não desejam abandonar o prazer que retiram
das refeições compostas por carnes de animais.
As pessoas tendem a simpatizar mais e a sentir mais compaixão pelos
animais que lhes são mais próximos e com quem convivem diariamente
(cães e gatos) do que com aqueles que nunca tocaram ou observaram de
perto. Daí que fiquem chocadas com a criação de cães e gatos para
alimentação em alguns países asiáticos mas não se choquem com a
criação muito mais maciça e brutal de outros mamíferos como as vacas
ou os porcos para o mesmo fim.

A estes motivos acresce um outro, que se prende com o facto de muitas
pessoas se preocuparem com os animais apenas por gostarem deles. Por
sentirem compaixão por eles, por se enternecerem com o olhar desolado
dos cães abandonados com que se cruzam. No fundo, por se sentirem
sentimentalmente ligados a eles.

Gostam mais do seu animal de estimação do que de todos os outros
animais da mesma espécie, gostam mais de gatos do que de cães ou mais
de cães do que de porcos, e dirigem a sua consideração e instinto de
protecção apenas aos animais da sua preferência.

Assim, não baseiam a sua conduta perante os animais em princípios
éticos ou morais, mas nas suas emoções.

Na realidade, todos os animais merecem ser tratados de acordo com o
seu valor intrínseco, independentemente da nossa simpatia por eles.
Devem ser respeitados enquanto indivíduos que são capazes de sentir
dor e prazer, e que por isso não podem ser considerados como meros
instrumentos de satisfação dos nossos interesses. É um princípio de
Justiça básico que assim o exige.

Apesar disso, o homem continua a matar e torturar animais em larga
escala para satisfazer os seus interesses mais supérfulos, sendo o
mais cruel e gritante exemplo disso a criação em série de animais em
condições absolutamente desumanas para satisfazer as suas preferências
gastronómicas.

Penso que hoje em dia, ao contrário do que se passava há uns anos
atrás em que os defensores do vegetarianismo tinham que procurar
persuadir as pessoas de que o regime vegetariano é saudável
apresentando uma miríade de tabelas de valores nutricionais dos
alimentos, declarações de organismos de saúde internacionais e de
nutricionistas reputados, etc, já não é necessário procurar
fundamentar a afirmação de que o regime alimentar vegetariano é
saudável e nutricionalmente adequado à alimentação dos seres humanos.
É a própria OMS que o afirma e informação avalizada sobre o tema pode
ser encontrada em livros e publicações da especialidade e na internet.

Ultrapassado este primeiro obstáculo, existe também um importante
argumento a ter em conta para a adopção do regime alimentar
vegetariano: o argumento ecológico.

Deixo apenas alguns dados para análise:

Os vegetais fornecem pelo menos 10 vezes mais proteínas por hectar do
que a carne.
Mais de metade da água consumida nos Estados Unidos é gasta na criação de gado.
Meio quilo de carne exige 50 vezes mais água do que a quantidade
equivalente de trigo, concluindo a revista Newsweek que "a água
necessária a um boi de 500 kg faria flutuar um contratorpedeiro".
A criação intensiva de animais é a indústria responsável por uma parte
substancial da poluição dos nossos recursos hídricos.
Nos últimos 25 anos foram destruídas quase metade das florestas
tropicais da América do Norte para plantações de cereal para
alimentação de gado.
Por fim, citando Peter Singer, o maior argumento de todos, uma vez que
se aplica tanto aos defensores dos animais como a quem estende as suas
preocupações éticas apenas aos seres humanos: " a comida desperdiçada
na produção de animais nas nações ricas seria suficiente, se fosse
adequadamente distribuída, para pôr fim tanto à fome como à
subnutrição em todo o mundo". Daí que seja lícito afirmar que o
respeito pelos animais não é concorrente com o respeito pelos seres
humanos. É, pelo contrário, complementar.

Por tudo isto, o vegetarianismo merece pelo menos ser considerado como
uma hipótese séria para uma atitude mais justa perante os animais, os
seres humanos, e o próprio planeta.

Por último, uma palavra às pessoas que aceitam os argumentos acima
expostos mas que afirmam que não vale a pena deixar de comer carne
porque "uma só pessoa deixar de comer carne não vai diminuir o número
de animais que é criado nas unidades de criação intensiva" ou que "o
animal que têm no prato já está morto e nada o pode ressuscitar":

É evidente que a criação intensiva de animais não vai acabar de um
momento para o outro, assim como é inverosímil pensarmos que todas as
pessoas se vão tornar vegetarianas de uma só vez. Cada pessoa consome
em média 4.022 animais ao longo de toda a sua vida. O máximo que
podemos almejar, e essa será já uma grande vitória, é juntarmo-nos aos
milhões de pessoas que já tomaram essa decisão e se recusam a comer a
carne de animais torturados e mortos e, assim, diminuir gradualmente a
procura de produtos animais, diminuindo o lucro obtido por esta
indústria e levando a que menos animais sejam criados intensivamente e
abatidos no futuro.

A este argumento acresce um outro, talvez ainda mais importante, para
deixarmos de consumir produtos derivados da indústria da carne: o
facto de estarmos a fazer a coisa certa; de sabermos que não
contribuímos de forma directa para o florescimento de uma actividade
que causa um sofrimento intenso a milhões de animais todos os anos.
Madre Teresa de Calcutá dizia: "o meu trabalho pode ser uma gota no
oceano, mas sem ele o oceano seria menor".

Em jeito de conclusão, fica um trecho da obra do conhecido filósofo
Tom Regan, "The Case for Animal Rights":

"But prejudices die hard, all the more so when, as in the present
case, they are insulated by widespread secular customs and religious
beliefs, sustained by large and powerful economic interests, and
protected by the common law. To overcome the collective entropy of
these forces-against-change will not be easy. The animal rights
movement is not for the faint of heart. Success requires nothing less
than a revolution in our culture's thought and action."
Nabakov
Marraio
Marraio
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Joined: 01 Jan 2007 21:00

Post by Nabakov »

Putz..!

A partir de hoje vou comer só perereca. ;)
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