Outro texto excelente, por sinal, nada como uma disputa Schumy x Barrichelo para render bons textos hein???
esse é do Daniel Dias, do ClicRBS.
Pois é, estas pilantragens do Michael Schumacher sempre trazem de volta a conduta dos pilotos. Eu sempre bato numa tecla: o piloto para se dar bem na Fórmula-1 não pode ser santinho. Mas tem um adendo fundamental para essa minha afirmação: o piloto não pode ser santinho, mas também não pode ser sujo na pista. Olhem esta famosa foto destes quatro sujeitos. Ayrton Senna, Alain Prost, Nigel Mansell e Nelson Piquet. Nenhum era santo. Mas nenhum era bandido. O cara para encarar qualquer um dos quatro, principalmente o Senna e o Mansell, em uma curva já sabia de antemão que ia ter problemas.
Os dois famosos episódios das outras duas fotos são isolados, não traduzem o que Senna e Prost eram. Vamos lá? Pois, bem. Ano 1989, as duas McLaren fizeram uma corrida isolada do resto da turma em Suzuka. Prost saiu na frente. Com os dois carros com rendimento muito parecido, Senna não conseguia completar a ultrapassagem, porque Prost tinha uma saída de curva mais rápida. Seu carro estava ajustado para isso. O Senna precisava vencer a prova, para levar a decisão para Adelaide, a última corrida. No terço final da prova, Senna fez todo o longo trecho de alta de Suzuka colado no companheiro-rival. Seu objetivo era passar na freada da chicane, antes da reta principal. Não podendo mais segurar o brasileiro, o francês jogou o carro sobre o de Senna, antes da freada da chicane. Prost ficou por ali, Senna continuou, mas como cortou a chicane para voltar à pista, foi punido.
Ano seguinte, com o Prost já na Ferrari, no mesmo Suzuka. Trancado na goela um ano inteiro, Senna deu o troco. Pole position na prova, Senna pediu para largar por fora, na parte mais limpa da pista. Não foi atendido. Um ano depois, na entrevista após conquistar o tricampeonato, no mesmo Suzuka, Senna disse claramente, para todo mundo ouvir:
- Depois que me impediram de largar na parte limpa da pista, decidi: se ele (Prost) largar na minha frente, não vai fazer a primeira curva.
Não fez. Com aceleração plena, Senna encheu a traseira da Ferrari. Os dois foram parar na caixa de brita. Desceram de seus carros e voltaram a pé para os boxes. Certamente lembrando do ano anterior, Prost nem reclamou, preferindo deixar aquilo como estava.
É óbvio que as duas batidas são condenáveis. Prost errou em 1989. Senna errou em 1990. Levaram a coisa para o lado pessoal, e se serviram de manobras sujas. Mas, como disse antes, aquelas duas batidas não mostram o que eram os dois pilotos em termos de conduta.