Comprar carro usado nos EUA
Posted: 22 Jul 2010 12:35

O cara ainda deu sorte que o pai dele entendia de mecânica...
Bem vindos de volta à Garagem dos Horrores, onde compartilhamos as piores histórias sobre rodas. Hoje temos apenas uma história. Mas ela é de arrepiar.
O leitor Desu-San-Desu compartilhou sua história em um comentário dias atrás. Se não tem nada urgente para fazer, sente-se, pegue uma xícara de café ou chá e acompanhe. A história é comprida e triste – de várias maneiras – mas é impressionante.
Quem será que ele foi em vidas passadas, Hitler? Será que ele jogou mais pedras na cruz que qualquer outro?
Em outubro de 2008, eu dirigia um Hyundai Excel 1994 que não tinha nenhum dos vidros no lado do passageiro, além do revestimento das portas, caixas de som, aquecedor, etc. Andava bem e tinha um bom consumo de combustível, mas o inverno se aproximava e eu precisava de um carro que pudesse manter o frio lá fora.
Procurei pela cidade e finalmente encontrei um Saturn SC2 1997 que parecia estar em bom estado de conservação. Transmissão manual de cinco velocidades, exterior e interior visualmente em ordem e o motor e outros componentes pareciam funcionar direito após uma checada rápida. Troquei meu Hyundai e um velho Corolla 1988 com problemas de torque, além de quinhentos dólares em dinheiro pelo Saturn.
O vendedor me deu o comprovante de venda e disse para voltar em alguns dias para o documento, já que estava em Conway, a cerca de trinta minutos de distância, e ele precisava pegá-lo na loja de lá. Tinha o comprovante, então tudo parecia bem. Ele avisou ainda que o carro não havia sido usado recentemente e poderia levar um tempo para que funcionasse corretamente. De novo, eu entendo que alguns carros fiquem assim mesmo e sai da loja.
No dia seguinte, quando tive chance de dirigi-lo de verdade pela primeira vez, percebi que as coisas não estavam bem de verdade. Parecia amputado. Após alguns testes, percebi que apesar da alavanca mostrar que estava na primeira ou segunda marcha, o motor não respondia de acordo. Parecia que começava na terceira marcha e apenas tinha a terceira, quarta, quinta e a ré.
Meu pai tentou maquiar a situação com um “talvez não seja um carro muito rápido mesmo”, mas eu já havia dirigido um SC2 1998 e sabia que era bem ágil para um quatro cilindros. Mesmo meu Hyundai, com 0,4 litros a menos, queimaria os pneus até a quarta marcha. Então sabia que tinha algo de errado.
Fiz meu pai dirigir o carro e ele percebeu que eu não estava inventando as coisas. Por sinal, eu até citei que os freios não pareciam bons. Eis que de repente, enquanto desacelerávamos, a partir de uns 60 km/h, ele pisa no pedal do freio e nada acontece. Lembre-se de que não é um Toyota. Então ele joga todo o peso de seu corpo no pedal e os tambores traseiros travam na hora. O carro deveria ter ABS (e de fato tem). Nós temos que desviar do carro à frente, por fora da pista, e usar o freio de mão para não cair em uma vala.
Depois disso, nós passamos a dirigir ainda mais lentamente que o normal, chegamos em casa e abrimos o capô. Acontece que havia muito ar no sistema de freios e a transmissão não tinha uma trava em C que mantinha os cabos presos. Os freios foram facilmente arrumados e até trocamos os tambores, lonas, pastilhas e sapatas para garantir.
Quanto à presilha em C, nenhuma das lojas na região tinha uma em estoque, então precisamos ir à concessionária Saturn em uma cidade vizinha e pagar oito dólares por um pedaço minúsculo de metal. De qualquer forma, a presilha fez o seu trabalho e aquele pequeno carro parecia renascido das cinzas no final das contas.
Qualquer um acharia que as coisas ficariam bem, mas não. Tinha que dirigir 65 quilômetros todas as noites para ir ao trabalho e voltava de manhã, passando pela loja onde comprei o carro no horário em que ela abria. Parava de vez em quando todas as semanas e perguntava por “J.T.”, o nome do vendedor, e se ele estava lá, o que era convenientemente raro, e ele sempre dizia que seu contato em Conway não conseguiu o documento, bla bla bla.
Estava ficando compreensivelmente irritado e nervoso com isso e após cerca de um mês, ele nunca mais estava na loja quando eu chegava. Nessa época, o carro se comportou de forma excelente, apesar de ter substituído as palhetas, lâmpadas, parte do estofamento, tapetes e os pneus. Mas ainda não tinha o documento e na Carolina do Sul, sem o documento, não poderia conseguir a placa definitiva.
Então com uma semana para vencer a “placa” provisória, eu vou até a loja e ela está vazia. Os carros de lá se foram, o escritório está vazio, a oficina não têm nada e está aberta. Mais pessoas começam a aparecer, a maioria com uma feição de raiva.
Depois de um tempo, a polícia aparece e informa aos presentes que aparentemente, o cara tinha uma autorização falsa de vendedor e estava enganando os clientes por alguns meses já. Ele pegava os carros para arrumá-los e depois os vendia ou vendia seus motores. Ele também fez alguns consertos bem ruins, se negava a devolver o dinheiro, segurava dinheiro que não lhe pertencia, e por aí vai. Quando as coisas apertaram para cima dele, ele liquidou o estoque e saiu da cidade.
Nessa hora, eu tinha sido esperto e fiquei com os documentos do Hyundai e do Toyota até que ele me desse o documento do Saturn. Eu dei queixa de roubo dos dois carros, e até hoje não foram encontrados. O “vendedor”, no entanto foi pego por um de seus clientes furiosos, ele pegou um pé de cabra e começou uma briga. Ele agora está na cadeia por cerca de 39 acusações diferentes, incluindo fraude, roubo, assalto, agressão com arma, agressão com intenção de morte, direção perigosa, resistência a prisão, etc.
Isso não melhorava as coisas para mim, já que eu não tinha o documento do Saturn e minha autorização provisória estava por vencer. Então decidi ver o histórico do carro. Após uma semana, encontrei a loja onde o cara conseguiu o Saturn. Parece que ele deveria consertá-lo, vendê-lo, e depois dar metade do dinheiro a essa loja. No lugar disso ele embolsou a grana e fugiu, a loja não viu dinheiro algum. E ainda assim não estavam com o documento.
Acontece que eles tinham conseguido o carro de outra loja, cerca de uma hora dali, porque ele precisava ser arrumado e não queriam ter o trabalho. Então tive que ir até essa terceira loja, somente para descobrir que eles também nunca viram o dinheiro e nunca venderam oficialmente o documento. Então tive que pagar a eles trezentos dólares para comprar o documento do meu carro, o que no final das contas significa que comprei o carro duas vezes. Lá se foi meu bônus de Natal.
Achei que foi o fim dos meus problemas, já que meu carro não havia mostrado nenhum sinal de um mau reparo. Mas cerca de um mês depois, de volta do trabalho para casa, estou dirigindo por uma ponte em Myrtle Beach e reduzo para ultrapassar um caminhão, quando ouço um estrondo e o carro começa a fazer um barulho gigantesco, como panelas batendo umas nas outras.
Vou para o acostamento e verifico o nível de óleo. Tudo certo. Nível de óleo da transmissão. Tudo certo. Água do radiador. Tudo certo. Fluído de freio. Tudo certo. Tudo parece bem. Então ligo para meu pai e lhe conto o que aconteceu e ele me diz para tentar voltar para casa. E é o que faço. Mas o barulho é tão alto que tenho que levantar os vidros devido ao eco que vem nos carros que passam. Eu não podia fazer mais que 55 km/h, o que transformou um trajeto de 45 minutos para casa em uma viagem estressante de duas longas horas.
Chego em casa e conto a história para meu pai que diz simplesmente “Bem... a resposta direta é... tá fu****.” Passamos a noite com uma garrafa de vodca xingando o idiota do vendedor que me vendeu o carro. Na manhã seguinte, levamos o carro para a garagem para começar a desmontá-lo. Meu problema imediato no entanto é chegar ao trabalho.
Já que eu estava no turno da noite, combinamos que meu pai poderia sair de casa uma hora mais tarde todas as manhãs e sair do trabalho uma hora mais tarde todos os dias, o que não era um problema para seu chefe, e eu poderia ir com sua picape para o trabalho. Funcionou tudo bem durante um mês, período no qual começamos a desmontar o Saturn.
Mas então seu chefe decide que começar a trabalhar às 10 da manhã não era legal e exigiu que meu pai voltasse a trabalhar no horário original. Tentamos negociar com ele e quando isso não funcionou, negociei com meus chefes para mudar meus horários ou até reduzir a jornada, mas eles disseram que daria muito trabalho e que se não pudesse arranjar um meio de transporte, então nem precisava me preocupar em trabalhar lá.
Pedi uma transferência para um lugar mais próximo de casa, mas como não estava tempo o bastante na empresa, não poderia me mudar assim. Tentei então uma transferência de urgência, mas já que não estava de mudança, também não podia ser dessa forma. Disse a eles que tinha um meio de transporte, mas que precisava sair às 7 da manhã.
Eles decidiram que tinham várias pessoas que poderiam contratar, sem problemas para cumprir o horário e me demitiram, duas semanas antes que eu pudesse me qualificar para o seguro desemprego. Acontece que eu não era a primeira pessoa que eles demitiram prestes a completar os seis meses necessários para obter o seguro desemprego. Mesmo assim, não dei muita bola já que estava considerando me alistar na Guarda Nacional mesmo, então, ao invés de registrarem que fui demitido por questões de transporte, colocaram simplesmente que me “demiti devido a uma mudança”, assim pelo menos o Wal-Mart deixou minha carteira sem a palavra “demitido”.
De qualquer forma, esse Saturn já tinha me custado o emprego e estava parado na garagem em meio a uma crescente pilha de peças. Nos três meses seguintes, nos quais procurei emprego nas redondezas e não encontrei nada, nós desmontamos toda a parte dianteira do carro e o motor até o bloco. Acontece que o virabrequim estava desgastado cerca de cinco milímetros, e o Sr. J.T. colocou um lubrificante mágico para disfarçar o estrago. Os rolamentos praticamente quicavam nela a cada rotação. Dois pistões tinham furos, todos os anéis estavam podres, e todo o bloco e precisava de uma retífica, além de substituir todos os rolamentos, selos, dois pistões completos, o virabrequim, correias e todas as peças que se possa imaginar para uma reconstrução completa.
As peças não só eram caras, a maioria delas era quase impossível de achar fora da concessionária. Cerca de metade das peças tiveram que ser compradas lá, com o “precinho camarada” de sempre. Por quê? Por que ninguém vende peças de Saturn, e não há peças de reposição de outras marcas. O rapaz na concessionária chegou a nos prestar condolências quando dissemos para ele que nós estamos reconstruindo o carro. Parece que as séries SC e SC2 têm uma certa reputação de serem temperamentais quando se trata de reconstruções. Custo total das peças: US$ 988,43, sem considerar o total de US$ 800 pelo documento e os dois carros perdidos.
Então, depois de três meses com meu pai torrando toda a grana de seu salário e todas as noites e finais de semana me ajudando a arrumar o motor, nós finalmente o terminamos. Agora, qualquer um que já arrumou um Saturn sabe o quão pentelhos eles são e só a compressão e a sincronia do motor me tomaram quatro horas para acertar. Por sinal, tenho um vídeo na minha página do Facebook mostrando como fizemos o motor girar como o bloco no chão, sem cabeçote, usando a bateria e duas chaves de fenda para dar a partida, só para ter certeza que ele rodava antes de montar tudo de uma vez.
O carro parou na primeira semana de fevereiro (em 2009). Nós finalmente o dirigimos pelo quarteirão na primeira semana de junho. Estava ótimo. Bastante torque, trocas precisas, ponto morto macio, tudo o que se quer ver. Nós aparentemente conseguimos o impossível e reconstruímos a porcaria do carro em nossa garagem com nada além de um manual, cordas, correntes e um guincho de motor.
Comecei imediatamente a procurar um emprego, mas nessa época a recessão já estava aí e metade das casas em nossa rua tinha uma placa de “Vende-se”. Por sinal, a cidade de Marion perdeu cerca de 30% de sua população residencial desde janeiro de 2009. Não havia empregos num raio de duas horas da cidade, e qualquer emprego disponível estava soterrado de candidatos. O colégio publicou um anúncio para dois supervisores. Cerca de 600 pessoas apareceram para se candidatar. A taxa de desemprego era de cerca de 50%, mas pessoas como eu, que não me enquadrava no benefício do seguro desemprego, nem entram nas estatísticas nacionais de desemprego. Somente aqueles que recebem o seguro. Assim, a estatística oficial dizia que a taxa era de 19% para aquela região da Carolina do Sul. Nessas horas ninguém mostra as letras pequenas, não é?
Então, enquanto procuro por emprego, o emprego de meu pai cai para meio período e ele trabalha apenas quatro dias por semana, o que significa que não podemos mais pagar as contas. Percebo que se não encontrar um emprego logo, nós provavelmente perderemos a casa, então decido me mudar para a casa de um amigo em uma cidade vizinha, onde poderia pagar pela estadia arrumando a casa. Então me mudo da casa de meu pai para a de Eric, o que deixa meu pai livre para pagar as contas e ter cerca de 50 dólares de sobra por mês. Não é muito, mas é o bastante.
Passo dois meses vivendo com Eric, procurando por empregos ao redor de Florence, e tentando sobreviver, quando o carro começa a dar problemas de partida. Verifico a bateria e tudo mais, e as coisas só pioram, preciso dar a partida no tranco e os faróis apagam do nada. Verifico a fiação e as conexões com o alternador, a bateria e a ignição e tudo está bem, mas ainda continua estranho. Uma hora para de funcionar completamente. Não dá a partida e estava bloqueando a calçada de Eric, então meu pai traz a caminhonete, uma corrente e o guincha de volta para casa, me deixando na casa de Eric, perambulando por toda a parte.
Mais de um mês depois, sou convidado a me mudar para a casa de um amigo na Pensilvânia que pode me ajudar, então deixo o Saturn com meu pai até que ele possa fazê-lo voltar a funcionar. Chego à Pensilvânia em setembro e logo acho emprego, usando o carro de Kyle para ir e voltar. Cerca de um mês depois de me mudar, meu pai consegue fazer o Saturn funcionar. A ignição e o alternador e parte da transmissão precisam ser substituídos. Lá se vão mais US$ 300 no carro. Uma vez de volta à vida, pego um voo de ida para a Carolina do Sul, pego o Saturn e dirijo de volta para Pensilvânia sem problemas. No mês seguinte, compro um novo conjunto de pneus (estava com pneus para o verão e em Erie neva forte no inverno), além de sensores novos e um conjunto de velas.
Naquele mês, quase abandonei o Saturn porque começou a morrer do nada, algumas vezes na rodovia, e geralmente engasgava e tropeçava, agindo como se estivesse sufocado. Verifiquei nos lugares de sempre, até levei para uma oficina para fazer uma leitura do computador, que apontou 16 erros, o que não fazia sentido para mim. Ironicamente, no caminho para casa, o bendito morreu quando saia da rodovia e não consegui fazê-lo pegar no tranco como de costume. Frustrado, chutei o carro bem forte e ele voltou, dando poucas engasgadas no caminho de volta. Em casa, olhei por baixo e percebi que parte da fiação estava solta.
Resolvido o problema, na semana seguinte reduzo a marcha na rodovia à caminho do trabalho e a alavanca de câmbio fica molenga do nada e parece totalmente sedada. Por sorte estou em terceira, então consigo sair do lugar e dirigir a 80 km/h, mas uso o pedal de embreagem como Lars Ulrich usa o seu no trabalho. Descubro que uma bucha da alavanca explodiu. Nem preciso entrar em detalhes sobre isso. Tudo o que você precisa fazer é pesquisar por “Saturn Shift Bushing” para ver o tamanho do problema entre os Saturns da década de 1990. Não posso acreditar que não fizeram um recall para isso. Acabo indo no eBay para comprar a bucha e o terminal do cabo por US$ 60, porque a Saturn não vende a bucha à parte. Não, você precisa comprar o cabo completo, por US$ 300, sem incluir o valor da mão de obra e instalação. Dane-se. Mas, graças ao eBay, estou de volta às ruas em uma semana. No meio tempo, aprendo bem os detalhes para remover o console central e ajustar as braçadeiras plásticas e o terminal de bateria que uso enquanto a peça do eBay não chega.
Enfim, chega o dia de ação de graças e o Saturn roda que é uma beleza, então imagino que posso dirigir até New Hampshire para visitar minha namorada em sua universidade e jantar com sua família – do jeito que todo namorado tem medo de fazer, mas é obrigado. Antes da viagem, junto minhas roupas, verifico o nível dos reservatórios e levo garrafas extras de cada fluído, além de um saco de dormir, luzes de emergência, comida, água, lanternas, ferramentas, etc., praticamente garantindo que meu carro vai ter o que precisa em caso de emergência.
Parto então para New Hampshire. Tudo parece ótimo, o carro se comporta bem e por volta das três da manhã, estou em Vermont, na Highway 9 e me divertindo. É uma estrada sinuosa, mas tenho pneus adequados e uma transmissão manual e posso atingir os 110 só aproveitando a descida, assim economizo combustível ao mesmo tempo em que aprecio o caminho. Mas então a montanha termina e chego a uma região mais plana, uma hora depois disso o carro começa a se comportar de maneira estranha. O sensor de pressão do óleo dispara, então cai para bem baixo e o carro começa a vibrar e a resposta do acelerador cai para o nível do Prius. Vejo o indicador de temperatura nas alturas, então paro às margens da estrada no meio de Vermont, às quatro da manhã. Consigo ouvir alces no meio da floresta a menos de um quilômetro de distância quando saio do carro. Não vejo faróis em nenhuma das direções, não importa o quão longe procure e ainda estou congelando.
Assim, estou com frio e só, no meio de um estado desconhecido e meu carro está quebrado, ainda duas horas de distância de onde mora minha namorada, com metade das minhas posses no banco traseiro e só duzentos dólares para pagar a gasolina do trajeto de volta para casa. Abro o capô e assim que a fumaça some, vejo óleo. Por toda a parte. Toda a parte mesmo. Eu olho pela lateral do carro e vejo óleo pingando próximo da roda traseira direita. Saiu por cima do motor e escorreu por baixo do carro. Saco minha lanterna, e percebo que a tampa de válvula se torceu como um pirulito, deixando que eu veja virabrequim. Chuto que o parafuso que prende a tampa estava solto e saiu devido a pressão.
Então pego o mapa e percebo que a próxima cidade é West Lebanon. Assim, pego um pouco de água, minha mochila, a lanterna, minha faca e um instrumento multiuso e começo a caminhar em direção da cidade, deixando meu Saturn trancado. Cerca de uma hora depois, chego a um posto e compro óleo, uma trava metálica e borracha autovedante, fita adesiva e um pouco de combustível, só para garantir. Me arrasto de volta para o Saturn e quando chego lá, removo a vedação antiga, espalho a borracha, uso um galho como alavanca para pressionar a tampa de válvula de volta e prendo-a antes que a borracha se vulcanize e aperto os parafusos para que não fiquem vibrando. Aplico um produto na trinca que se formou na tampa. Completo o óleo, deixo o restante no banco de trás e piso como uma menininha até chegar a New London para encontrar minha namorada.
Resumindo a história, não tenho dinheiro para pagar um ônibus ou um voo de volta para Pensilvânia e pagar para levar minhas coisas até lá, muito menos um guincho para levar o Saturn até lá, e meu colega Kyle e seus amigos não podem vir me buscar porque teriam que faltar um dia no serviço. Enquanto pensava no que fazer, o campus da faculdade fechou para o Natal, então precisei ir para a casa de amigos dela, deixando o Saturn no estacionamento do único Shopping Center da cidade, rezando para que ninguém o levasse.
Não tive sorte. Voltamos três semanas depois e o carro sumiu. Acontece que foi guinchado duas noites depois que o deixamos lá e acumulou US$900 em multas. Enfim, depois de um inferno de um ano, simplesmente disse “dane se, o problema é seu agora”, entreguei o documento e o comprovante de compra para a empresa do guincho e peguei uma carona para a cidade. A universidade tem um limite de pernoite para visitantes de duas noites por semana, então não podia ficar lá. Acabei vivendo em um abrigo para sem teto em New Hampshire até que consegui dinheiro para pagar o ônibus de volta.
No final, o Saturn me custou três lares, dois empregos e cerca de um ano da minha vida. A pior parte? Nem falei dos detalhes menores, como o fiasco do motor do limpador de para-brisa, para não me estender demais.
Resumindo, tive uma péssima experiência de compra, péssima experiência com o vendedor, péssima experiência mecânica, péssima experiência com peças de reposição, péssima experiência em primeira mão com o funcionamento do carro e péssimas experiências ao volante. Se esta não é uma história de horror com carros, não sei o que é.
Cara, sentimos muito por você. E (como se já não tivéssemos um milhão de outras razões, incluindo morar no Brasil), nunca, nunca compraremos um Saturn.
Sokol1