Elza Cansanção Medeiros - 2º Tenente - (1921 - 2009)
Elza Cansanção Medeiros nasceu no dia 21 de outubro de 1921 na cidade do Rio de Janeiro. Era filha de pais alagoanos, sendo seu pai o médico sanitarista Tadeu de Araújo Medeiros – que fora auxiliar do Dr. Oswaldo Cruz na campanha contra a febre amarela. Ainda muito jovem aprendeu a atirar e começou a dominar idiomas estrangeiros, especialmente o inglês. Perdeu seu irmão mais velho, vítima de um derrame cerebral aos 17 anos de idade e, portanto, sentia que tinha a obrigação de representar a família na defesa da pátria.
Em 1942, Elza ingressou em um curso de enfermagem das Samaritanas da Cruz Vermelha, concluindo-o um ano depois. Com a declaração de guerra do Brasil à Alemanha e Itália em agosto de 1942, Elza iniciou suas tentativas de entrar efetivamente para o esforço de guerra. Como as Forças Armadas brasileiras não permitiam mulheres em seu efetivo, Elza contentou-se em tentar embarcar como enfermeira, e dessa forma tornou-se a primeira voluntária brasileira a se apresentar para a Segunda Guerra Mundial, em 18 de abril de 1943.
O Quadro de Enfermeiras da Reserva do Exército foi criado em 13 de dezembro de 1943, e devido à falta de efetivo, foi iniciada a primeira turma do Curso de Emergência de Enfermeiras da Reserva do Exército. Elza fez parte desta primeira turma, cujo treinamento levou quatro semanas, entre medicina, treinamento físico, línguas estrangeiras e legislação militar. Em 25 de março de 1944, Elza graduou-se em primeiro lugar na turma, junto com as colegas Maria do Carmo Correa e Castro e Berta Moraes.
Devido a um acordo prévio com o General Souza Ferreira, Elza foi a primeira enfermeira a embarcar para a Itália, no dia 9 de julho de 1944, junto ao Destacamento Precursor de Saúde. Durante a escala em Argel, Elza e as outras enfermeiras do Destacamento Precursor ouviram na rádio os alemães anunciarem a “chegada das enfermeiras brasileiras”, dando sua localização, seu destino e seus nomes – delatando o descuido com o sigilo de informações e a pujança do sistema de espionagem do Eixo no Brasil.
Chegando à Nápoles no dia 15 de julho, Elza e suas colegas tiveram a missão de receber os cinco mil homens do 1º Escalão da FEB, que desembarcavam do USS General Mann. Designadas para o 45º Hospital de Campo, as enfermeiras brasileiras travaram o primeiro contato com os feridos de guerra e com o corpo médico norte-americano. Por sua habilidade como intérprete, Elza era constantemente requeridas nas diversas alas do hospital.
Contudo, um problema apareceu. As brasileiras eram enquadradas como Enfermeiras de 3ª Classe, o que não é uma patente militar. Além de serem alvos freqüentes de humilhações por parte de suas colegas norte-americanas – que eram todas oficiais – elas não podiam freqüentar a cantina dos oficiais e nem o refeitório dos praças, pois não pertenciam a nenhuma das categorias. Elza então levou o problema ao General Mascarenhas de Morais, comandante da Força Expedicionária Brasileira, que tratou de encontrar uma brecha na legislação para enquadrá-las como oficiais. Dessa forma, todas as enfermeiras brasileiras que chegaram à Itália foram imediatamente elevadas ao posto de 2º Tenente.
Elza pediu então sua transferência para um hospital no front, sendo atendida e transferida para o 38º Hospital de Evacuação em Santa Luce, 30 km a sudeste de Pisa. No entanto, pouco tempo depois o hospital teve de era abandonado devido a uma enchente, provocada pela detonação das represas do rio Arno pelos alemães. Ela seguiu então para o 16º Hospital de Evacuação, localizado em Pistoia, e bem próximo da linha de frente. Lá, Elza tratou tanto de Aliados quanto de alemães, que ela julgou serem pacientes muito mais fáceis de tratar do que os brasileiros.
O 7º Hospital de Campo, em Livorno, era a maior e mais equipada unidade hospitalar daquele setor do teatro de operações, e também era o que tinha o maior contingente médico brasileiro. Devido à situação disciplinar alarmante no hospital, o Coronel Generoso Ponce, Sub-Chefe da unidade, designou Elza Medeiros para assumir a coordenação em 29 de novembro de 1944, como enfermeira-chefe. Ela então iniciou um duro trabalho de conciliação entre brasileiras e norte-americanas, atenuando as diferenças lingüísticas e estabilizando o relacionamento entre o corpo médico.
O trabalho foi, entretanto, muito exigente para Elza, e ela pediu transferência, sendo designada oficial de ligação no 45º Hospital Geral a partir de 18 de abril de 1945. Com o fim da guerra em 8 de maio, ela pediu seu repatriamento e, em 11 de junho, embarcou para o Brasil.
Ao chegar, foi desligada do serviço ativo em 14 de julho de 1945. Poucos dias depois, Mascarenhas promoveu-a a Enfermeira de 1ª Classe. Elza então trabalhou para o serviço médico do Banco do Brasil, e escreveu seu primeiro livro, “Nas Barbas do Tedesco”, em 1955. Em junho de 1957, uma lei federal permitiu que as enfermeiras voluntárias da FEB voltassem ao serviço ativo, e Elza foi enquadrada na Diretoria Geral de Saúde do Exército, sendo promovida a 1º Tenente em 25 de agosto de 1962.
Em 1965, passa a trabalhar para o Serviço Nacional de Informações, e em 1966 vai para a Policlínica Central do Exército. Elza passou para a reserva em 12 de abril de 1976 na patente de Major.
Ela escreveu ainda mais dois livros sobre a guerra, e construiu um acervo de mais de 5.000 fotografias do conflito. Organizou também o Museu da Segunda Guerra Mundial em Maceió, recebendo o título de cidadã honorária da cidade em 1982 – e recentemente ganhou um busto de bronze na instituição. Em abril de 2007, tornou-se membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil. A Major Elza era uma figura conhecida e querida, sempre presente em eventos e desfiles militares.
Era a decana das mulheres militares do Brasil, e também mais condecorada brasileira da história, com 36 medalhas. A Major Elza Cansanção Medeiros faleceu no Rio de Janeiro, aos 88 anos de idade, no dia 8 de dezembro de 2009, de complicações após uma fratura no fêmur.
Fonte:
http://saladeguerra.blogspot.com/2009/1 ... eiros.html
Tem vídeos dela no site falando sobre sua experiência de guerra.