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Conclusões da auditoria da ANAC sobre a TAM

Posted: 22 May 2007 13:35
by Nilton
Site da revista ASAS:

(Da Redação, 21 de maio de 2007)
Leia abaixo as conclusões do Relatório Final da Auditoria da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), disponibilizado em 30 de março deste ano (e agora colocado à público), sobre os problemas ocorridos com os passageiros e vôos da TAM no peíodo de 20 a 24 de dezembro de 2006:

"Conclusões
Após analisarmos cada um dos itens apresentados até aqui, passamos agora a realizar uma análise conjuntural do período em questão. A tabela do Anexo I (não inserida) demonstra a relação de rotas domésticas regulares operadas pela TAM no período de 15 a 25 de dezembro de 2006.
Mediante análise dos dados agregados podemos verificar a conjunção de fatores que desencadearam a crise ocorrida durante o período que antecedeu o natal do ano passado. Conforme verificado nos itens anteriores, a concessionária planejava realizar suas operações na semana em questão com índices de aproveitamento e reservas de passagens consideradas altos, principalmente para determinadas rotas operadas pela empresa.
A TAM, assim como a maioria das grandes empresas mundiais, opera sua malha aérea por mero da utilização de sistema de HUB's, concentrando grande parte dos seus vôos em aeroportos-base onde chegam e partem os vôos com conexões. No período analisado, percebe-se que a operação da empresa em alguns desses aeroportos de importância estratégica registrava altos índices de taxas de ocupação, não apenas em determinados vôos e horários como em todo o período de 18 a 25 de dezembro.
Tal situação expõe a empresa a uma situação eminente de risco, uma vez que esse tipo de operação apresenta margens apertadas de tolerância de atrasos e não suporta falhas na operação da empresa, uma vez que, os casos onde fossem verifìcadas situações que impossibilitassem a chegada dos vôos dentro do horário previsto, certamente comprometeriam os demais vôos partindo daquele aeroporto.
Nos casos em que ocorressem atrasos ou cancelamentos de vôos para um determinado aeroporto-base (HUB) a empresa ficaria exposta em uma situação de trade-off, sendo obrigada a decidir entre partir com determinado vôo sem aguardar os passageiros oriundos de vôos conectantes que estariam por chegar, ou aguardar a chegada desses passageiros, estendendo o atraso para o vôo conectado.
Nesse momento, fica claro o chamado efeito "dominó", onde vôos atrasados acabam por atrasar outros vôos, e os vôos cancelados contribuem negativamente para o agravamento da crise. De maneira geral, operações aéreas estão expostas a esse tipo de efeito sistêmico, fruto de uma operação extremamente encadeada e entrelaçada, de maneira que se um dos componentes falha o efeito pode se estender por toda a malha aérea da empresa.
As operações realizadas com altos índices de ocupação em vários vôos e em vários dias consecutivos colocaram a TAM em uma situação de vulnerabilidade, principalmente a partir da constatação de vários cancelamentos ocorridos nos dias de picos. Nesses casos a empresa não apresentava capacidade ociosa suficiente que permitisse a realocação dos passageiros egressos dos vôos cancelados dentro do mesmo dia, uma vez que os demais vôos da empresa para o mesmo trecho já se encontravam todos com altos índices de ocupação para aquela data e para os dias seguintes.
Essa situação fica clara ao analisarmos, por exemplo, os vôos partindo do Aeroporto de Brasília com destinos às principais capitais do nordeste, os quais apresentaram índices de load-factor para o período superiores a 90%. Quando os cancelamentos começaram a ocorrer, algumas aeronaves não conseguiram completar seus vôos até Brasília para posteriormente seguir com os passageiros para o Nordeste.
Os vôos que não chegaram a Brasília ou chegaram atrasados causaram um grande tumulto de passageiros nas dependências do aeroporto, os quais aguardavam a chegada das aeronaves para concluir seus embarques. Após horas de atraso em determinados vôos, a empresa não teve condições de acomodar esses passageiros prejudicados nos vôos seguintes para a mesma rota, uma vez que os mesmos também já se encontravam com altas taxas de ocupação.
Nesse momento a concessionária passou a não mais conseguir acomodar todos os passageiros que possuíam passagens nos seus vôos, criando uma lacuna entre a venda do bilhete aéreo e a prestação do serviço. Essa situação desencadeou um efeito sistêmico, que apesar de ter iniciado nos aeroportos-base, se espalhou rapidamente para os demais pontos operados pela empresa, afetando grande parte dos aeroportos do país.
É importante ressaltar que foram identificados também casos de overbooking que certamente contribuíram para o agravamento da situação de crise. Entretanto, dada a quantidade de ocorrências do tipo verifìcadas por etapa, pode-se concluir que as mesmas não se revelaram como causa primária dos problemas verificados, agindo apenas como causa secundária, de pouca influência. O mesmo raciocínio vale para os casos de preterição de embarque (relacionada diretamente ao overbooking), os quais foram verificados em níveis ainda menores, que também contribuíram para o agravamento da crise, mas não de modo significativo.
Portanto, apesar de não terem sido constatadas irregularidades no planejamento operacional da concessionária, o desencadeamento da crise tomou dimensões que parecem ter sido superiores à capacidade da empresa de cumprir com todas as suas obrigações. Porém, essas obrigações com os passageiros devem ser analisadas caso a caso e pelo setor competente, qual seja a Gerência Geral de Fiscalização da Superintendência de Serviços Aéreos."