Munição da 2ª Guerra
Posted: 05 Apr 2007 15:25
05/04/2007
Uma bomba-relógio enferruja no Báltico
Axel Bojanowski
Bombas, produtos químicos venenosos e explosões súbitas de munição enferrujada da Segunda Guerra Mundial impõem grande ameaça para os próximos anos no mar Báltico, segundo os especialistas. No entanto, os governos estão demorando a lidar com o problema.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o Báltico tornou-se um depósito para munições não utilizadas. Após décadas de ferrugem e desgaste em suas águas cinzentas, minas antigas, bombas e torpedos impõem uma ameaça ao mar e às pessoas que o cruzam, pescam nele ou moram ao seu redor. Os pescadores encontram inadvertidamente três toneladas de munição por ano, diz o especialista ambiental Stefan Nehring.
Aparelhos que medem terremotos detectam regularmente explosões no mar, disse o engenheiro ambiental Mark Koch, em uma conferência internacional de munições no Báltico em Berlim, no último final de semana.
Munições tóxicas devem aparecer cada vez mais na costa da Alemanha, advertiu Robert Zellermann, responsável pelo descarte de bombas no Estado da Baixa Saxônia, no Norte da Alemanha. As bombas, na maior parte, enferrujaram e foram espalhadas por correntes, disse ele, acrescentando que cerca de um terço do solo marinho do Báltico tem munições espalhadas.
O pesquisador ambiental russo Tengis Borisov chegou a advertir que o Báltico enfrentava um desastre "em uma escala comparável com a do acidente de Chernobil". Pescadores, navios e limpadores de praias correm perigo, e peixes pescados no Báltico podem se tornar insalubres.
A maior parte dos especialistas acredita que a ameaça é menor, mas acrescenta que o perigo é difícil de estimar porque nenhuma pesquisa séria ainda foi feita.
Um problema ambiental sério
Especialistas dizem que os riscos impostos por armas químicas estão sendo subestimados. Muitos pescadores e membros da marinha sofreram queimaduras com ácidos, danos aos olhos e câncer por entrar em contato com materiais tóxicos da época da Segunda Guerra. Se as substâncias não forem identificadas nas redes de pesca, podem entrar na cadeia alimentar, advertiram os especialistas.
Os EUA jogaram grandes quantidades do agente neurotóxico Tabun no Báltico, disse Zellermann. Ele apresentou documentos que, segundo ele, mostravam que os EUA descartaram cerca de meio milhão de bombas de Tabun em Skagerrak, no Norte do Báltico. "Os documentos mostram apenas o mínimo, as verdadeiras quantidades provavelmente foram muito maiores", disse Zellerman. "Temos que impedir que a substância chegue às costas", advertiu Irina Osokina, representante do governo russo na conferência.
O número de bombas encontradas em águas costeiras mostra que a ameaça está sendo subestimada. Recentemente, uma equipe de televisão que filmava no fiorde Kiel, da Alemanha, detectou 70 torpedos e minas vazando TNT na água. Em 2001, duas dúzias de minas marinhas e mais de 3.000 granadas foram encontradas na baía de Flensburg.
Não se sabe quantos acidentes são causados por munições. A Dinamarca é a única que publica as estatísticas, que mostram que cerca de 20 pessoas por ano sofrem ferimentos com munições do mar. Em 2005, uma mina matou três pescadores holandeses a bordo de seu barco. Nas águas alemãs do Báltico e mar do Norte, acidentes ligados a munições ocorrem anualmente. Vários Estados alemães têm estatísticas dos acidentes, disseram pessoas informadas ao Spiegel Online. No entanto, nenhum dos Estados publica os números.
Angelika Beer, membro do Partido Verde alemão no Parlamento Europeu, disse que a desinformação era irresponsável e que as autoridades estavam ignorando os perigos.
Tapani Stipa, do Instituto Finlandês de Pesquisa Marítima de Helsinque, disse que via pouca ameaça às regiões costeiras do Báltico, porque muitas substâncias tóxicas dissolvem-se rapidamente na água. Entretanto, ressaltou que não há muita pesquisa sobre o problema.
Nehring disse que se sabe pouco sobre a localização das munições e que muito foi jogado em circunstâncias caóticas, 62 anos atrás. Os barcos pagos para descartar a munição freqüentemente ignoravam as instruções de jogá-la em águas profundas, porque queriam voltar ao porto o mais rápido possível para pegar a próxima carga. Isso deixou muitas bombas espalhadas amplamente pelo solo marinho, onde correntes marítimas e redes de pesca espalham-nas ainda mais.
Os Estados bálticos anunciaram planos há 13 anos de conduzir uma pesquisa de grande escala sobre a munição perigosa, mas não cumpriram a promessa, disse Irina Osokina.
Os arquivos americanos talvez ajudem a localizar os depósitos, disse Manfred Boese, presidente do Instituto Internacional de Segurança Ecológica do mar Báltico e mar do Norte, que organizou a conferência em Berlim.
Mas os EUA manterão seus arquivos trancados por ao menos mais 10 anos, disse ele. "No interesse da segurança, devemos pressionar para que essa informação seja divulgada", disse Boese.
Dada a quantidade de munição no Báltico, alguns especialistas dizem que o plano de um gasoduto de 1.200 km da Rússia para a Alemanha pelo solo marinho impõe perigos. O operador do projeto, Nord Stream, disse na semana passada que, se forem encontradas munições no traçado do gasoduto, este terá que ser desviado para outra área ou terão que ser examinadas "outras opções".
O especialista ambiental Koch acredita que chegou a hora de recuperar as grandes áreas onde a munição foi jogada ao mar, para diminuir a ameaça. Os participantes da conferência de Berlim agora planejam compilar estimativas precisas da ameaça e apresentá-las ao Grupo dos Oito, na reunião de cúpula das grandes nações industrializadas que acontecerá em Heiligendamm, no báltico alemão, em junho. Os governos precisam começar a lidar com o problema de munições, disse Beer.
O Livro Verde da União Européia de Política Marítima não faz menção ao problema. Os europeus planejam criar regras dentro de suas fronteiras com as quais a UE planeja estabelecer regulamentos internacionais para negócios, proteção ambiental, pesca e turismo até o final de 2007 -áreas em que munições se degradando no solo marítimo podem ser um legado perigoso.
Tradução: Deborah Weinberg
Visite o site do Der Spiegel
Uma bomba-relógio enferruja no Báltico
Axel Bojanowski
Bombas, produtos químicos venenosos e explosões súbitas de munição enferrujada da Segunda Guerra Mundial impõem grande ameaça para os próximos anos no mar Báltico, segundo os especialistas. No entanto, os governos estão demorando a lidar com o problema.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o Báltico tornou-se um depósito para munições não utilizadas. Após décadas de ferrugem e desgaste em suas águas cinzentas, minas antigas, bombas e torpedos impõem uma ameaça ao mar e às pessoas que o cruzam, pescam nele ou moram ao seu redor. Os pescadores encontram inadvertidamente três toneladas de munição por ano, diz o especialista ambiental Stefan Nehring.
Aparelhos que medem terremotos detectam regularmente explosões no mar, disse o engenheiro ambiental Mark Koch, em uma conferência internacional de munições no Báltico em Berlim, no último final de semana.
Munições tóxicas devem aparecer cada vez mais na costa da Alemanha, advertiu Robert Zellermann, responsável pelo descarte de bombas no Estado da Baixa Saxônia, no Norte da Alemanha. As bombas, na maior parte, enferrujaram e foram espalhadas por correntes, disse ele, acrescentando que cerca de um terço do solo marinho do Báltico tem munições espalhadas.
O pesquisador ambiental russo Tengis Borisov chegou a advertir que o Báltico enfrentava um desastre "em uma escala comparável com a do acidente de Chernobil". Pescadores, navios e limpadores de praias correm perigo, e peixes pescados no Báltico podem se tornar insalubres.
A maior parte dos especialistas acredita que a ameaça é menor, mas acrescenta que o perigo é difícil de estimar porque nenhuma pesquisa séria ainda foi feita.
Um problema ambiental sério
Especialistas dizem que os riscos impostos por armas químicas estão sendo subestimados. Muitos pescadores e membros da marinha sofreram queimaduras com ácidos, danos aos olhos e câncer por entrar em contato com materiais tóxicos da época da Segunda Guerra. Se as substâncias não forem identificadas nas redes de pesca, podem entrar na cadeia alimentar, advertiram os especialistas.
Os EUA jogaram grandes quantidades do agente neurotóxico Tabun no Báltico, disse Zellermann. Ele apresentou documentos que, segundo ele, mostravam que os EUA descartaram cerca de meio milhão de bombas de Tabun em Skagerrak, no Norte do Báltico. "Os documentos mostram apenas o mínimo, as verdadeiras quantidades provavelmente foram muito maiores", disse Zellerman. "Temos que impedir que a substância chegue às costas", advertiu Irina Osokina, representante do governo russo na conferência.
O número de bombas encontradas em águas costeiras mostra que a ameaça está sendo subestimada. Recentemente, uma equipe de televisão que filmava no fiorde Kiel, da Alemanha, detectou 70 torpedos e minas vazando TNT na água. Em 2001, duas dúzias de minas marinhas e mais de 3.000 granadas foram encontradas na baía de Flensburg.
Não se sabe quantos acidentes são causados por munições. A Dinamarca é a única que publica as estatísticas, que mostram que cerca de 20 pessoas por ano sofrem ferimentos com munições do mar. Em 2005, uma mina matou três pescadores holandeses a bordo de seu barco. Nas águas alemãs do Báltico e mar do Norte, acidentes ligados a munições ocorrem anualmente. Vários Estados alemães têm estatísticas dos acidentes, disseram pessoas informadas ao Spiegel Online. No entanto, nenhum dos Estados publica os números.
Angelika Beer, membro do Partido Verde alemão no Parlamento Europeu, disse que a desinformação era irresponsável e que as autoridades estavam ignorando os perigos.
Tapani Stipa, do Instituto Finlandês de Pesquisa Marítima de Helsinque, disse que via pouca ameaça às regiões costeiras do Báltico, porque muitas substâncias tóxicas dissolvem-se rapidamente na água. Entretanto, ressaltou que não há muita pesquisa sobre o problema.
Nehring disse que se sabe pouco sobre a localização das munições e que muito foi jogado em circunstâncias caóticas, 62 anos atrás. Os barcos pagos para descartar a munição freqüentemente ignoravam as instruções de jogá-la em águas profundas, porque queriam voltar ao porto o mais rápido possível para pegar a próxima carga. Isso deixou muitas bombas espalhadas amplamente pelo solo marinho, onde correntes marítimas e redes de pesca espalham-nas ainda mais.
Os Estados bálticos anunciaram planos há 13 anos de conduzir uma pesquisa de grande escala sobre a munição perigosa, mas não cumpriram a promessa, disse Irina Osokina.
Os arquivos americanos talvez ajudem a localizar os depósitos, disse Manfred Boese, presidente do Instituto Internacional de Segurança Ecológica do mar Báltico e mar do Norte, que organizou a conferência em Berlim.
Mas os EUA manterão seus arquivos trancados por ao menos mais 10 anos, disse ele. "No interesse da segurança, devemos pressionar para que essa informação seja divulgada", disse Boese.
Dada a quantidade de munição no Báltico, alguns especialistas dizem que o plano de um gasoduto de 1.200 km da Rússia para a Alemanha pelo solo marinho impõe perigos. O operador do projeto, Nord Stream, disse na semana passada que, se forem encontradas munições no traçado do gasoduto, este terá que ser desviado para outra área ou terão que ser examinadas "outras opções".
O especialista ambiental Koch acredita que chegou a hora de recuperar as grandes áreas onde a munição foi jogada ao mar, para diminuir a ameaça. Os participantes da conferência de Berlim agora planejam compilar estimativas precisas da ameaça e apresentá-las ao Grupo dos Oito, na reunião de cúpula das grandes nações industrializadas que acontecerá em Heiligendamm, no báltico alemão, em junho. Os governos precisam começar a lidar com o problema de munições, disse Beer.
O Livro Verde da União Européia de Política Marítima não faz menção ao problema. Os europeus planejam criar regras dentro de suas fronteiras com as quais a UE planeja estabelecer regulamentos internacionais para negócios, proteção ambiental, pesca e turismo até o final de 2007 -áreas em que munições se degradando no solo marítimo podem ser um legado perigoso.
Tradução: Deborah Weinberg
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